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sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Capítulo 5 - O que habita os sonhos




Caminhando dentro daquela enorme fortaleza subterrânea Anthony e Scott seguiam Ângela, indo de encontro a Alan Hunt, um dos mais poderosos magos do mundo.

Angie, tem algo me incomodando, aquela armadilha na entrada, se bem me lembro, aquela porta era capaz de identificar o sangue de cada clã aliado a escola do senhor do Hunt.  Então para ela ter nos atacado quer dizer que não somos mais aliados? – questionou Anthony
Primeiro, não me chame desse jeito seu idiota, não temos essa intimidade. Segundo, você já deve suspeitar, mas é por causa do seu irmão, não podíamos correr o risco de ele entrar aqui. – respondeu Ângela
– Então ele esta envolvido com os ataques e as mortes?
– Não sabemos com certeza, mas o seu irmão fez o nome muito rápido, ele esteve envolvido com magia negra e muitas pessoas perigosas ao longo desses anos.
– Tem mais uma coisa que eu gostaria de discutir com você, Scott siga em frente nós precisamos conversar coisas de adulto.
Senhorita, peço desculpas pelo meu tio ser um tarado, não ligue para as coisas que ele vai dizer. – disse Scott

Scott ficou em silêncio, envergonhado com tudo o que esperava que o tio fosse dizer e imaginando que aquela mulher o espancaria, enquanto isso juntava os fragmentos de informação que tinha ouvido sobre seu pai.

Devia crescer Anthony, seu sobrinho age de modo mais maduro que você, não temos tempo para brincadeiras idiotas. – disse Ângela
Escute-me primeiro antes de responder. Eu quero te pedir duas coisas. A primeira é que eu quero que você me treine, eu estou muito fraco, eu não sou metade do mago que já fui, com essa força eu não posso proteger ninguém, sou apenas um peso. A segunda coisa, eu quero que você se case comigo. – disse Anthony
 
Ela deu um tapa no rosto dele, mas ele não se mexeu, sua  expressão era seria, embora usualmente ele não fosse alguém para se levar a sério, desta vez ele falava a verdade, o que deixou Ângela confusa.

Eles caminhavam por um grande corredor de pedra que tinha tochas na parede, a imagem se assemelhava a de masmorras medievais, Scott pensava em como as dimensões daquele lugar não faziam sentido, imaginava se isso também tinha sido feito com magia.

Logo eles chegaram ate uma grande porta de madeira, insculpido nela havia a imagem de um cavaleiro montado em um cavalo e portando uma grande lança, era o brasão do clã Hunt. Ela guardava um grande salão, o local era cheio de símbolos e runas, as colunas de sustentação ficavam ao centro formando um pentagrama, e no centro disso tudo havia um homem de aparência velha, aparentava ter por volta de sessenta anos, era Alan Hunt.

Durante algum tempo eles ficaram esperando lá, ele parecia em profundo estado de transe meditando, não deviam interrompê-lo.

Este senhor parece realmente bem velho, ele é tão forte quanto dizem, o quinto mago mais forte do mundo? – questionou Scott
Não se engane com a aparência, diferente da porta de entrada esta pela qual passamos não tinha nenhuma proteção mágica, isso é porque ele não precisa, se alguém viesse ate ele com intenções assassinas essa pessoa que precisaria de proteção – disse Anthony

Ângela tentou explicar a Scott comparando a magia de Alan com a de Anthony, enquanto o tio dele usava magia relacionada as forças da natureza, por exemplo sendo capaz de condensar a água e formar gelo, aquele homem  possuía outro nível de dominação sobre a matéria.

Enquanto Anthony sequer era capaz de criar gelo, precisando ter água para então a congelar e mesmo assim ele não dominava totalmente o elemento, não conseguido atingir temperaturas extremas, Alan era capaz de congelar os objetos a nível subatômico, ele era capaz de atingir o zero absoluto.

Cada elemento tem um ponto especifico, uma temperatura na qual começa a congelar, para a água é zero grau Celsius, por exemplo, o zero absoluto é a temperatura que resfria qualquer coisa, é quando todas as moléculas param de vibrar, a magia de Alan era capaz de algo desse nível.

Scott pensava no quanto podia aprender ali, em como uma mesma magia de gelo tinha tantos modos diferentes de ser usada e níveis de controle.

Depois de esperarem por mais quase quarenta minutos finalmente Alan abriu os olhos e os recebeu, ele parecia cansado e tinha um semblante preocupado, mas logo mudou para uma expressão mais amigável ao ver Anthony e Scott.  

Bem vindo jovem Anthony, já faz quase vinte anos que não nos vemos. Este pequeno ao seu lado deve ser o filho de Richard. – disse Alan Hunt
Senhor, eu gostaria de conversar, tenho algumas perguntas e em troca ofereço algumas informações que talvez sejam uteis. – disse Anthony
– Este garoto, ele tem o mesmo olhar que Richard da primeira vez que o vi, ele parece uma mariposa indo em direção as chamas. Uma mariposa que depois de ser tocada pelas chamas não vai aceitar seu destino e queimar, vai voar em direção à floresta e espalhar o fogo, causar um grande incêndio.
– Há alguns dias atrás meu irmão foi nos procurar, ele falou sobre a rachadura, disse que todo o mundo estava em risco, e ele queria que Scott se juntasse a ele.
– Se veio pedir minha ajuda seja pelo menos sincero, me conte a parte que esta escondendo.

Anthony hesita por um momento, a lembrança não fazia jus ao que ele via diante dele, aquele velho de aparência frágil tinha uma presença assustadora. Era opressor estar no mesmo lugar que ele, como se a força da gravidade fosse mais forte.

O que o meu tio não disse é que essa fenda de que vocês tanto falam, eu a vi, na verdade eu já a vejo há anos, ele sempre esteve nos meus sonhos. – disse Scott
Nos seus sonhos, é claro. Uma resposta um tanto obvia, embora igualmente inquietante. – disse Alan
Não estou entendendo isto, como ele pode saber de algo que vocês a pouco descobriram? Ele sequer foi iniciado nos caminhos, eu sempre o mantive longe desse mundo. – disse Anthony

Ângela observava com atenção o rosto de Anthony, aquele não era mais o garoto irresponsável e brincalhão que ela tinha conhecido no passado, ele agia como um pai preocupado, em nenhum momento ele pensou em sua própria segurança, apenas queria ajudar seu sobrinho.

Ela via medo nos olhos dele, temor diante de tudo que estava acontecendo, frustração e impotência por não ser capaz de fazer nada par proteger seu sobrinho.

A verdade é que nunca vi esta fenda, a maioria dos magos nunca viu, por isso demoramos tanto tempo para acreditar que ela fosse real, temo que tempo demais ... Imagine um campo, quando íamos ate ele ao amanhecer ele estava coberto por orvalho, nós ignoramos. Mas quando o campo amanheceu encharcado não foi mais possível ignorar. – disse Alan
– Nunca vimos a chuva, mas vimos as marcas que ela deixou, e claro que a chuva apenas pode cair do céu. Assim como a rachadura devia estar no mundo dos sonhos.

Alan incentivou Scott a contar detalhadamente tudo que ele havia visto nos seus sonhos. O garoto começou a contar sobre os pesadelos que tinha, imagens borradas, cenas sobre a morte de sua mãe, um pai que ele deseja que estivesse lá para abraçá-lo e confortá-lo, dizer que tudo ficaria bem, mas que o tinha abandonado.

O sentimento de ser um peso, imaginar que no futuro seu tio também não o aguentaria mais e o abandonaria, ele ficaria finalmente sozinho, talvez este fosse o seu destino, provavelmente tinha algo de errado com ele, a culpa era dele mesmo.

Era como se existisse um buraco em seu peito, um vazio opressor que crescia dentro dele, que parecia devorá-lo a cada dia, enquanto estava acordado ele tentava afastar estes pensamentos, mas a noite eles voltavam para assombrá-lo, ele não podia escapar dos pesadelos. Mas na verdade ele conseguiu. 

Ele não conseguia explicar como fazia, mas de algum modo ele fugia de seus sonhos, era como estar em um rio, tentando nadar contra uma forte correnteza que insistia em arrastá-lo, Scott encontrou então novos lugares, como se fora dos seus sonhos existisse todo um mundo que pudesse ser explorado.

Ao fim de sua jornada ele sempre chegava ao mesmo lugar, uma enorme cidade dourada, ela resplandecia tanto como o próprio sol, parecia feita de ouro. Era uma visão deslumbrante, enormes palácios, magníficas estatuas, se o perguntassem ele diria que seria capaz de imaginar o paraíso deste modo.   

Alan ate então calmo e sentado na posição de lótus se levanta rapidamente, tem uma expressão que mistura raiva e surpresa no rosto, era como se Scott tivesse acabado de proferir uma grande blasfêmia, se tivesse dito algo que abalava sua fé todas as suas crenças.

Atlântida – sussurra Alan como que com medo da palavra

O velho mago começa a dizer que a cidade lendária representa para os praticantes da magia o mesmo que Jerusalém significa para católicos, judeus e muçulmanos, é um lugar santo. Contudo, a existência dela não é um fato comprovado, é como uma lenda, muitos não acreditam que seja real, que é apenas uma espécie de metáfora.

Se o que Scott dizia fosse verdade alem da rachadura agora isto sobre Atlântida, essas coisas mudariam para sempre o mundo da magia. Mas aquele não era o momento para isso, se os outros soubessem provavelmente começariam a explorar o mundo dos sonhos de modo destrutivo, começariam a lutar para ter posse daquilo.

Algo que todos ambicionam e que poderia ser o estopim para dar inicio a uma guerra, se o uso da magia se intensificasse ainda mais a fenda aumentaria com efeitos totalmente imprevisíveis.

Não poderia haver pior hora para isso, com a rachadura havia surgido o medo, e ele fez com que magos se atacassem, grupos da morte se formassem, isso levou a desconfiança e traição, um tênue linha impede que comecem um conflito.

Alan era bastante velho para não ter mais esperanças sobre as pessoas se unirem e trabalharem em conjunto para resolver seus problemas, não, ele sabia que diante de uma ameaça as pessoas se tornam mais brutais e desumanas, pensam apenas no instinto de sobrevivência.

Ele julgava ate então que os sinais que via indicavam o fim de uma era, que as coisas mudariam como tantas vezes aconteceu no passado, talvez o inicio do domínio destes magos modernos que misturam magia com tecnologia, mas agora com as palavras daquele garoto ele imaginava que era algo mais, que podia estar diante do fim de tudo.


Ângela segurou a mão de Anthony, ele notou que ela estava assustada, não era difícil perceber o porquê, ate Alan estava reagindo daquele jeito, parecia não saber o que fazer diante da situação, ela nunca o tinha visto desse modo, uma aprendiz que depositava toda sua fé no mestre e agora o via tão perdido quanto um novato.     

Um comentário:

  1. Mais um grande capítulo, Alan Hunt é um homem sábio, o mais poderoso mago do mundo, mas até ele se sentiu intimidado por essa fenda que julga ser a cidade sagrada de Atlantida, estou adorando a mitologia que está adicionando á sua história, este capítulo pode não ter avançado muito ela mas deu para entender a gravidade dos sonhos de Scott, capazes de fazer o mais poderoso tremer. As partes entre a Angie e o Anthony também estão muito divertidas, shippei =P

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