Caminhando dentro daquela enorme
fortaleza subterrânea Anthony e Scott seguiam Ângela, indo de encontro a Alan
Hunt, um dos mais poderosos magos do mundo.
Angie,
tem algo me incomodando, aquela armadilha na entrada, se bem me lembro, aquela
porta era capaz de identificar o sangue de cada clã aliado a escola do senhor
do Hunt. Então para ela ter nos atacado
quer dizer que não somos mais aliados? – questionou Anthony
Primeiro,
não me chame desse jeito seu idiota, não temos essa intimidade. Segundo, você
já deve suspeitar, mas é por causa do seu irmão, não podíamos correr o risco de
ele entrar aqui. – respondeu Ângela
–
Então ele esta envolvido com os ataques e as mortes?
–
Não sabemos com certeza, mas o seu irmão fez o nome muito rápido, ele esteve
envolvido com magia negra e muitas pessoas perigosas ao longo desses anos.
–
Tem mais uma coisa que eu gostaria de discutir com você, Scott siga em frente nós
precisamos conversar coisas de adulto.
Senhorita,
peço desculpas pelo meu tio ser um tarado, não ligue para as coisas que ele vai
dizer. – disse Scott
Scott ficou em silêncio, envergonhado
com tudo o que esperava que o tio fosse dizer e imaginando que aquela mulher o
espancaria, enquanto isso juntava os fragmentos de informação que tinha ouvido
sobre seu pai.
Devia
crescer Anthony, seu sobrinho age de modo mais maduro que você, não temos tempo
para brincadeiras idiotas. – disse Ângela
Escute-me
primeiro antes de responder. Eu quero te pedir duas coisas. A primeira é que eu
quero que você me treine, eu estou muito fraco, eu não sou metade do mago que
já fui, com essa força eu não posso proteger ninguém, sou apenas um peso. A
segunda coisa, eu quero que você se case comigo. – disse Anthony
Ela deu um tapa no rosto dele, mas ele
não se mexeu, sua expressão era seria,
embora usualmente ele não fosse alguém para se levar a sério, desta vez ele
falava a verdade, o que deixou Ângela confusa.
Eles caminhavam por um grande corredor
de pedra que tinha tochas na parede, a imagem se assemelhava a de masmorras
medievais, Scott pensava em como as dimensões daquele lugar não faziam sentido,
imaginava se isso também tinha sido feito com magia.
Logo eles chegaram ate uma grande porta
de madeira, insculpido nela havia a imagem de um cavaleiro montado em um cavalo
e portando uma grande lança, era o brasão do clã Hunt. Ela guardava um grande
salão, o local era cheio de símbolos e runas, as colunas de sustentação ficavam
ao centro formando um pentagrama, e no centro disso tudo havia um homem de
aparência velha, aparentava ter por volta de sessenta anos, era Alan Hunt.
Durante algum tempo eles ficaram
esperando lá, ele parecia em profundo estado de transe meditando, não deviam
interrompê-lo.
Este
senhor parece realmente bem velho, ele é tão forte quanto dizem, o quinto mago
mais forte do mundo? – questionou Scott
Não
se engane com a aparência, diferente da porta de entrada esta pela qual
passamos não tinha nenhuma proteção mágica, isso é porque ele não precisa, se
alguém viesse ate ele com intenções assassinas essa pessoa que precisaria de
proteção – disse Anthony
Ângela tentou explicar a Scott
comparando a magia de Alan com a de Anthony, enquanto o tio dele usava magia
relacionada as forças da natureza, por exemplo sendo capaz de condensar a água
e formar gelo, aquele homem possuía
outro nível de dominação sobre a matéria.
Enquanto Anthony sequer era capaz de
criar gelo, precisando ter água para então a congelar e mesmo assim ele não
dominava totalmente o elemento, não conseguido atingir temperaturas extremas,
Alan era capaz de congelar os objetos a nível subatômico, ele era capaz de
atingir o zero absoluto.
Cada elemento tem um ponto especifico,
uma temperatura na qual começa a congelar, para a água é zero grau Celsius, por
exemplo, o zero absoluto é a temperatura que resfria qualquer coisa, é quando
todas as moléculas param de vibrar, a magia de Alan era capaz de algo desse
nível.
Scott pensava no quanto podia aprender
ali, em como uma mesma magia de gelo tinha tantos modos diferentes de ser usada
e níveis de controle.
Depois de esperarem por mais quase
quarenta minutos finalmente Alan abriu os olhos e os recebeu, ele parecia
cansado e tinha um semblante preocupado, mas logo mudou para uma expressão mais
amigável ao ver Anthony e Scott.
Bem
vindo jovem Anthony, já faz quase vinte anos que não nos vemos. Este pequeno ao
seu lado deve ser o filho de Richard. – disse Alan Hunt
Senhor,
eu gostaria de conversar, tenho algumas perguntas e em troca ofereço algumas
informações que talvez sejam uteis. – disse Anthony
–
Este garoto, ele tem o mesmo olhar que Richard da primeira vez que o vi, ele
parece uma mariposa indo em direção as chamas. Uma mariposa que depois de ser
tocada pelas chamas não vai aceitar seu destino e queimar, vai voar em direção
à floresta e espalhar o fogo, causar um grande incêndio.
–
Há alguns dias atrás meu irmão foi nos procurar, ele falou sobre a rachadura,
disse que todo o mundo estava em risco, e ele queria que Scott se juntasse a
ele.
–
Se veio pedir minha ajuda seja pelo menos sincero, me conte a parte que esta
escondendo.
Anthony hesita por um momento, a
lembrança não fazia jus ao que ele via diante dele, aquele velho de aparência
frágil tinha uma presença assustadora. Era opressor estar no mesmo lugar que
ele, como se a força da gravidade fosse mais forte.
O
que o meu tio não disse é que essa fenda de que vocês tanto falam, eu a vi, na
verdade eu já a vejo há anos, ele sempre esteve nos meus sonhos. – disse Scott
Nos
seus sonhos, é claro. Uma resposta um tanto obvia, embora igualmente inquietante.
– disse Alan
Não
estou entendendo isto, como ele pode saber de algo que vocês a pouco
descobriram? Ele sequer foi iniciado nos caminhos, eu sempre o mantive longe
desse mundo. – disse Anthony
Ângela observava com atenção o rosto de
Anthony, aquele não era mais o garoto irresponsável e brincalhão que ela tinha
conhecido no passado, ele agia como um pai preocupado, em nenhum momento ele
pensou em sua própria segurança, apenas queria ajudar seu sobrinho.
Ela via medo nos olhos dele, temor
diante de tudo que estava acontecendo, frustração e impotência por não ser
capaz de fazer nada par proteger seu sobrinho.
A
verdade é que nunca vi esta fenda, a maioria dos magos nunca viu, por isso
demoramos tanto tempo para acreditar que ela fosse real, temo que tempo demais
... Imagine um campo, quando íamos ate ele ao amanhecer ele estava coberto por
orvalho, nós ignoramos. Mas quando o campo amanheceu encharcado não foi mais
possível ignorar. – disse Alan
–
Nunca vimos a chuva, mas vimos as marcas que ela deixou, e claro que a chuva
apenas pode cair do céu. Assim como a rachadura devia estar no mundo dos
sonhos.
Alan incentivou Scott a contar
detalhadamente tudo que ele havia visto nos seus sonhos. O garoto começou a
contar sobre os pesadelos que tinha, imagens borradas, cenas sobre a morte de
sua mãe, um pai que ele deseja que estivesse lá para abraçá-lo e confortá-lo,
dizer que tudo ficaria bem, mas que o tinha abandonado.
O sentimento de ser um peso, imaginar
que no futuro seu tio também não o aguentaria mais e o abandonaria, ele ficaria
finalmente sozinho, talvez este fosse o seu destino, provavelmente tinha algo
de errado com ele, a culpa era dele mesmo.
Era como se existisse um buraco em seu
peito, um vazio opressor que crescia dentro dele, que parecia devorá-lo a cada
dia, enquanto estava acordado ele tentava afastar estes pensamentos, mas a
noite eles voltavam para assombrá-lo, ele não podia escapar dos pesadelos. Mas
na verdade ele conseguiu.
Ele não conseguia explicar como fazia,
mas de algum modo ele fugia de seus sonhos, era como estar em um rio, tentando
nadar contra uma forte correnteza que insistia em arrastá-lo, Scott encontrou
então novos lugares, como se fora dos seus sonhos existisse todo um mundo que
pudesse ser explorado.
Ao fim de sua jornada ele sempre chegava
ao mesmo lugar, uma enorme cidade dourada, ela resplandecia tanto como o
próprio sol, parecia feita de ouro. Era uma visão deslumbrante, enormes
palácios, magníficas estatuas, se o perguntassem ele diria que seria capaz de
imaginar o paraíso deste modo.
Alan ate então calmo e sentado na
posição de lótus se levanta rapidamente, tem uma expressão que mistura raiva e
surpresa no rosto, era como se Scott tivesse acabado de proferir uma grande
blasfêmia, se tivesse dito algo que abalava sua fé todas as suas crenças.
Atlântida
– sussurra Alan como que com medo da palavra
O velho mago começa a dizer que a cidade
lendária representa para os praticantes da magia o mesmo que Jerusalém
significa para católicos, judeus e muçulmanos, é um lugar santo. Contudo, a
existência dela não é um fato comprovado, é como uma lenda, muitos não
acreditam que seja real, que é apenas uma espécie de metáfora.
Se o que Scott dizia fosse verdade alem
da rachadura agora isto sobre Atlântida, essas coisas mudariam para sempre o
mundo da magia. Mas aquele não era o momento para isso, se os outros soubessem
provavelmente começariam a explorar o mundo dos sonhos de modo destrutivo,
começariam a lutar para ter posse daquilo.
Algo que todos ambicionam e que poderia
ser o estopim para dar inicio a uma guerra, se o uso da magia se intensificasse
ainda mais a fenda aumentaria com efeitos totalmente imprevisíveis.
Não poderia haver pior hora para isso,
com a rachadura havia surgido o medo, e ele fez com que magos se atacassem,
grupos da morte se formassem, isso levou a desconfiança e traição, um tênue
linha impede que comecem um conflito.
Alan era bastante velho para não ter
mais esperanças sobre as pessoas se unirem e trabalharem em conjunto para
resolver seus problemas, não, ele sabia que diante de uma ameaça as pessoas se
tornam mais brutais e desumanas, pensam apenas no instinto de sobrevivência.
Ele julgava ate então que os sinais que
via indicavam o fim de uma era, que as coisas mudariam como tantas vezes
aconteceu no passado, talvez o inicio do domínio destes magos modernos que
misturam magia com tecnologia, mas agora com as palavras daquele garoto ele
imaginava que era algo mais, que podia estar diante do fim de tudo.
Ângela segurou a mão de Anthony, ele
notou que ela estava assustada, não era difícil perceber o porquê, ate Alan
estava reagindo daquele jeito, parecia não saber o que fazer diante da
situação, ela nunca o tinha visto desse modo, uma aprendiz que depositava toda
sua fé no mestre e agora o via tão perdido quanto um novato.
Mais um grande capítulo, Alan Hunt é um homem sábio, o mais poderoso mago do mundo, mas até ele se sentiu intimidado por essa fenda que julga ser a cidade sagrada de Atlantida, estou adorando a mitologia que está adicionando á sua história, este capítulo pode não ter avançado muito ela mas deu para entender a gravidade dos sonhos de Scott, capazes de fazer o mais poderoso tremer. As partes entre a Angie e o Anthony também estão muito divertidas, shippei =P
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