Um cenário mágico, indescritível, formas geométricas que desafiam a física e a lógica, coisas para as quais não existem palavras em nossa língua para descrever, literalmente um mundo de sonhos, algo que atenta contra todos os mais básicos conceitos de racionalidade, mas mesmo assim acreditamos ser real por algumas horas, e o fato de acreditarmos torna isto real.
Ele vaga por um vasto campo florido, ele
quase pode sentir o aroma das rosa, o vento tocando seu rosto, ele encontra uma
sensação de paz e quietude, mas algo o abala. Ele olha para o que seria o céu,
embora dada a estranha geografia daquele lugar bem podia ser o solo, e enxerga
uma rachadura.
Apesar de não saber o que é aquilo ele
sente que é errado, que é mau, algo que não deveria estar ali. Esta imagem tem
se repetido continuamente nos sonhos dele, já fazem alguns anos que ele sonha
com esta rachadura, e ele vem notando que ela esta aumentando de tamanho.
Uma grande curiosidade o empurra em
direção a rachadura, ele quer tocá-la, ele quer olhar de perto, quer saber se
algo o olhará de volta do outro lado. Mas quando esta se aproximando é
interrompido, uma linda jovem o impede de seguir, ela tem a pele clara, um
rosto marcante, uma expressão que intimida ao mesmo tempo em que parece gentil,
longos cabelos ondulados e bonitos olhos cor de mel.
De forma não muito gentil a garota o
afasta, como se ela tivesse alguma espécie de força miraculosa, um simples
aceno com a mão tem a força de um vento forte, algo que o empurra de volta,
como se o jogasse de volta para o seu corpo.
O cenário ao seu redor começa a mudar,
ele sonha com sua velha casa, uma noite chuvosa, onde relâmpagos e trovões
assustavam um menino de seis anos que corria para o quarto da mãe em busca de
proteção. Mas ao abrir a porta se depara com uma imagem terrível, que o
marcaria para o resto de sua vida.
Sua mãe esta no chão, parece estar
sofrendo muito, como se estivesse sentindo terríveis dores, a aliança em sua
mão esquerda emite um brilho vermelho, ele sente que sua mãe esta sendo tomada
dele, que aquilo esta fazendo mal a ela, que esta roubando a vida dela.
Ele se lamenta por não poder fazer nada,
ele chora, sua mãe se arrasta em direção a ele e o abraça, balbucia algumas
palavras que ele não entende, apenas a frase final ele compreende, quando ela
diz que sempre vai amá-lo e pede para que ele cresça como um homem bom e
gentil.
O som estridente do despertador o acorda,
ele se sente aliviado, aquele pesadelo o persegue a anos, ele repete para si
mesmo que aquilo é apenas a forma como sua mente de criança interpretou o que
aconteceu naquela época.
A realidade é bem menos fantasiosa e
igualmente cruel, pouco depois dele nascer o pai abandonou a família por uma
mulher mais jovem e bonita, sozinha sua mãe teve de criá-lo, aliás, sozinha
não, dizer isto seria injustiça.
Talvez por remorso pela conduta do
irmão, talvez amor pelo sobrinho, ou talvez uma queda pela cunhada, mas o tio
dele havia sido como o verdadeiro pai para ele, ajudando na sua criação e
educação e ficando responsável por ele depois que a mãe dele morreu de
câncer.
Ele já tem dezesseis anos, em poucos
dias se completarão dez anos que a mãe dele morreu, e durante todo este tempo o
pai nunca apareceu ou o procurou, talvez não se importe, talvez nem saiba que a
esposa morreu. Antes ele pensava bastante sobre isso, pensava em procurar o
pai, tentar falar com ele, mas sem pistas não sabia por onde começar, acabou
desistindo.
Além disso, esse assunto deixava seu tio
bem sensível, as maiores discussões deles eram sobre o pai dele, o tio o
culpava pela morte da cunhada, parecia nutrir um grande rancor do irmão, no
meio de tudo isto ele ainda tinha seus problemas comuns de adolescentes, tentar
se encaixar no mundo, moldar sua personalidade, fazer amigos, encontrar seu
primeiro amor.
Normalmente ele tentava esquecer e não
pensar nestas questões de família, apenas naquelas datas do ano especiais como
dia dos pais, natal, aniversário essas lembranças eram algo mais presente e
difícil de afugentar.
Depois de algum tempo deitado na cama ele
finalmente se levantou e foi tomar banho e se vestir para descer e tomar o café
da manhã com seu tio, esta época era mais calma, durante o período de férias
escolares, seu tio era professor da escola onde ele estudada, e fora algumas
reuniões também ficava livre durante este tempo.
Bom
dia Scott, venha comer, preparei algo que você gosta, panquecas! – disse seu
tio Anthony
Não
obrigado, não estou com muita fome agora, depois eu como. – disse Scott
tentando disfarçar que odiava as panquecas do tio com sua textura de borracha
–
Você tem uma expressão cansada, não esta com uma cara boa. Não dormiu bem noite
passada?
–
Bem eu tive alguns sonhos estranhos, tinha uma garota e ...
Subitamente seu tio o interrompeu, não
permitindo que ele terminasse de falar.
Você
esta sonhando com garotas, finalmente esta na hora de termos “a conversa”. Sabe
Scott, durante a primavera as abelhas levam o pólen ate as flores, mas elas tem
que estar usando camisi ... não, quero dizer sim! Espere, quero dizer que
quando um garoto e uma garota gostam um do outro ... Você sabe ate a parte da
cegonha certo?
Em parte constrangido e em parte
tentando não rir do seu tio que andava freneticamente pela cozinha tentando
explicar para ele coisas que ele já sabia, ele decide poupar o tio daquela
situação e sai sem ser percebido.
Ele caminha pelas ruas pouco
movimentadas da pequena cidade, pensa em ir ate o centro e então comer algo por
lá, quem sabe depois passar um tempo no cemitério visitando o túmulo da mãe,
ele sempre se sente tranquilo quando esta lá.
Enquanto caminha pela cidade ele vai
passando pelas pessoas que conversam animadamente.
Por
favor, sou eu querida.
Seu idiota, não vou te perdoar dessa
vez.
Compra
sorvete para mim pai?
Já
estou na praça, fico te esperando.
Eu
juro, é verdade, estou procurando
emprego.
Venha buscar seu presente.
Estou
indo, ate amanhã.
Não
seja injusta, isso significa muito para mim
também.
Algo estranho estava acontecendo, não é
que ele quisesse ouvir a conversa das pessoas, mas algumas palavras pareciam
soar diferente, como se fossem uma mensagem para ele, era difícil de explicar,
mas ele sentia que alguém estava tentando falar com ele.
Quando se deu conta ele já estava
andando a mais de trinta minutos, seus planos de ir comer tinham ficado
perdidos no caminho, a estranha mensagem que ele pensou ouvir acabou bagunçando
sua cabeça, ao acordar daquela espécie de transe ele já estava perto dos
limites da cidade, foi quando ele viu aquele homem.
Ele nunca tinha visto uma foto do pai em
todos estes anos, seu tio disse que havia queimado a maioria das fotos porque
aquilo fazia mal a sua mãe, que ela passava os dias como um zumbi olhando as
imagens, presa as recordações de alguns anos felizes que tinha tido com ele,
antes dele a abandonar. Mas não era preciso, algo mais forte, que lembranças,
algo dentro dele o fez ter a certeza, aquele era o seu pai.
Era um homem que aparentava ter por
volta de quarenta anos, longos cabelos negros com alguns fios brancos surgindo
por entre eles, olhos negros, ele era alto e tinha uma presença intimidadora.
Meu
filho, faz muitos anos que não o vejo, da última vez ainda era praticamente um
bebê, agora olho para você e me encho de orgulho, posso ver muito de mim
refletido. – disse Richard
O
que esta acontecendo? Como você fez isso? – questionou confuso Scott
–
Eu sei que você deve ter inúmeras perguntas, eu lhe asseguro que tentarei
responder a cada uma delas, tenho certeza que varias mentiras a meu respeito foram
contadas pelo meu irmão, eu quero ter a chance de lhe explicar as coisas.
Apenas venha ate mim.
Parado nos limites da cidade, com seu
pai do outro lado Scott fica indeciso, não sabe seus instintos o dizem para se
afastar, mas ele tem muitas coisas que deseja perguntar. Mas eles são
interrompidos por outra pessoa.
É
muita coragem sua aparecer aqui Richard, eu devia acabar com você, usar todas
as maldições que já foram conjuradas. – disse Anthony
Você
afasta meu filho de mim, o envenena contra mim contando todo tipo de mentira
suja e ainda me ameaça. Eu deveria estar ameaçando-te! – disse Richard
–
Eu logo percebi seu feitiço de sincronicidade, bem pelo menos é um bom sinal,
quer dizer que a magia de proteção na cidade funciona, ela te impede de entrar
aqui.
–
Olhe para o garoto, ele parece perdido, não sabe do que estamos falando, você
nem mesmo contou a verdade para ele, o mostrou as origens que ele possui, o
poder que ele possui.
–
Chega, não vou assistir você destruir a vida dele como fez com a mãe dele, eu
queria poder acreditar que você mudou, que esta arrependido e tentando
consertar os erros do passado, mas quando olho para você, sua aparência, estas
rugas, este envelhecimento, eu já sei porque esta aqui. E eu juro que não vou
deixar você fazer isso, nem que eu tenha que fazer o que no passado não tive
coragem, matá-lo.
Calem
a boca! O que esta acontecendo? Parem de falar sobre mim como se eu não
estivesse, eu quero a verdade, parece haver mais sobre eu e minha mãe do que
você me contou tio. – disse Scott
Magia,
bruxaria, ter o poder de moldar a realidade, controlar forças dignas de um
deus, sabedoria de milênios, é disso que estamos falando meu filho. Este mundo
esta prestes a atingir a chegar ao seu ocaso, existe uma rachadura no tecido da
realidade. – disse Richard
Adorei o começo desta história, o mundo fantasioso parece ser fascinante, adorei a parte das mensagens escondidas, me lembra conversas de espionagem atravez dos classificados do jornal xD
ResponderExcluirEnfim, gostei bastante deste primeiro capítulo, já conseguimos perceber um pouco da trama, o pai de Richard parece ter algum interesse no filho, ele nunca o procurou durante todo este tempo e como o tio disse, ele agora está velho e quer fazer algo ao rapaz, estou com muito interesse para ver como esta trama se vai desenrolar, muito bom mesmo.
Ps: A conversa sobre as abelhinhas foi qualquer coisa de épico, ri imenso xD
Começou bem, jovem! Me interessei!
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