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quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Capítulo 3 - O lugar a que pertencemos




Anthony desperta em uma cama de hospital, tem aparelhos ligados ao peito e ao nariz, tenta se levantar bruscamente, mas sente tontura, logo uma enfermeira aparece para acalmá-lo.

Depois de algum tempo seu sobrinho Scott aparece, ele explica que após o que ocorreu com o pai dele, Anthony desmaiou e sem saber o que fazer ele o levou ate um hospital, contando que eles estavam no cemitério e que quando o raio caiu o tio estava próximo demais. Ele havia passado dois dias desacordado.

Após insistir bastante, e já que os médicos não tinham encontrado nenhum problema clinico nele Anthony foi liberado, ele queria sair de lá o quanto antes, queria voltar para casa e se preparar. Ao chegarem lá ele começa a conversar com seu sobrinho.

Por onde começar, eu sei que não fui um bom protetor, peço desculpas por isso Scott, acho que estou enferrujado demais, tanto tempo sem praticar me deixou muito enfraquecido. – disse Anthony
Tudo bem tio, não precisa se desculpar, as coisas que você fez foram incríveis, eu não sei como meu pa ... como Richard conseguiu aguentar. – disse Scott
– A verdade é que agora eu não sei o que fazer, esta cidade, talvez todo o mundo não seja mais segura para nós, eu não sei se podemos nos esconder do seu pai.
– Por que você acha que ele foi embora daquele jeito, ele podia ter feito qualquer coisa conosco, mas partiu, ele disse que queria provar que não era o que você pensava.
– Desculpe Scott, mas eu nunca vou confiar de novo nele, e meu conselho é para que você também não confie. Eu não sei o porquê ele agiu daquele modo, mas tenho certeza que foi por já ter outro plano em mente. Talvez algo sobre aquela rachadura que ele falou.
– Tem algo sobre isso que eu queria te contar. Nestes dois dias que você esteve em coma, eu não consegui mais sonhar com a rachadura, meus sonhos parecem “normais”.
– Isso é ótimo Scott.
– Mas se o que ele falou é verdade isso envolve o fim do mundo, o fim de tudo. Ele disse que eu fui uma das poucas pessoas no mundo a perceber isso, se é assim então devíamos fazer algo sobre isso, algo para evitar que aconteça, tentar consertar.

Anthony fica em silêncio por algum tempo, ele olha para Scott e não gosta do que vê, aquela expressão obstinada, aquela vontade de conhecer todos os segredos do universo, de entender seu papel nisso tudo, ele lembrava Richard.

Ele tentou convencer seu sobrinho a parar de pensar sobre aquilo, a desistir de tudo isso, não era problema deles, eles já haviam perdido coisas demais nisso, que outras pessoas se preocupassem com o destino do mundo. Scott se recusava a ouvi-lo, queria descobrir o que estava acontecendo, o porquê daquela rachadura aparecer em seu sonho, queria entender este poder que tinha corrompido seu pai.

Essa busca que você quer fazer, a maioria dos homens se perdem nela, é poder demais, existem tentações em demasia, nada de bom virá disso. É um caminho sem volta, eu sou a prova disso. – disse Anthony
A verdade é que você esta assustado demais, ele estava certo, você esta com medo tio. Eu vi o jeito que esta olhando para mim, eu te assusto, você esta enxergando meu pai em mim. – disse Scott
– Isso não é uma historia de fantasia onde haverá um final feliz, você não é um herói Scott, pare de agir como uma criança. Pelo amor de Deus esqueça toda esta maldita coisa, apenas viva sua vida. Você quer aprender mais sobre isso, deixe-me te dizer uma coisa, se o que o seu pai disse é verdade, se a magia causou esta rachadura, acha que é ela que vai consertar? Quanto mais ela for usada mais as coisas pioraram.
– Quando Richard contava tudo aquilo, quando você me contou a verdade, as coisas que eu vi você fazendo, nada daquilo me impressionou, era como se eu  já soubesse que existia. Eu me sentia parte deste mundo. Eu agradeço tudo que fez por mim tio, mas você sabe e agora eu também sei, nunca vou poder ter uma vida normal. Vou aprender mais sobre isso, descobrir o que esta acontecendo, com ou sem você.

Scott então sobe para seu quarto, Anthony fica sozinho com seus pensamentos. Talvez Richard estivesse certo, ele pensa. Não se pode fugir de algumas coisas, existem fantasmas que sempre voltam para nos assombrar. E se correr não adianta, quem sabe seu sobrinho esteja certo, ao invés do medo é preciso coragem para enfrentar.

Ele começa a lembrar de sua adolescência, quando ele e Richard fugiram de seu pai, ambos queriam ser livres, Anthony achou que esquecer a magia e tentar ter uma vida normal fosse o melhor que eles pudessem fazer.

Mas no fundo ele sabia, Richard não desistiria disso, ele era curioso demais, queria entender aquele poder, talvez se Anthony tivesse o ajudado, tivesse permanecido ao seu lado para guiá-lo em suas buscas ele não tivesse se desviado tanto do caminho.

Embora agora fosse inútil pensar em tantos “talvez”, em possibilidades que nunca aconteceram, rever os erros do passado era importante para tentar não repeti-los. Anthony encarou o sobrinho, olhou em seus olhos e sabia que ele não estava blefando, ele tentaria encontrar respostas para suas perguntas.
Anthony sobe as escadas e vai ate o quarto de Scott, então começa a explicar-lhe um pouco sobre o que aconteceu.

Ele contou sobre a magia que ele controlava, era algo ligado as forças da natureza. Fogo, água, raio, terra, estes são os nomes que nós demos as coisas, não os seus nomes reais. Quando ele chamava as coisas por seus verdadeiros nomes ele ganhava controle sobre elas, podendo manipulá-las.

Como Richard havia explicado, existem regras, magos são pessoas que trapaceiam o universo, como alguém tentando contar as cartas em um cassino, existem forças que comandam o mundo, é difícil dizer se elas possuem consciência ou não.

A realidade a nossa volta, a forma como o mundo é concebido pelas pessoas, o grande consciente coletivo, ele faz parte disso, as pessoas precisam se adequar a isso ou são consumidas pelo universo.
O resumo de tudo é que um trapaceiro não pode ser pego ou ele sofrerá consequências, é preciso ser um mestre na arte de enganar e dissimular, é preciso fazê-lo olhar para a mão direita enquanto o truque esta na mão esquerda.

Criar um raio das suas mãos e projetá-lo diretamente contra Richard era possível, mas isto seria muito chamativo, seria uma afronta muito direta as leis que dominam a realidade, mas criar um raio no meio de um tempestade é algo que pode acontecer, é um evento que acontece rotineiramente.

O básico da magia é aprender a projetá-la de um modo que seja aceito pela realidade, existem vários fatores a se pensar antes de usar um feitiço, a quantidade de pessoas que o estão vendo, o local, a época, as condições climáticas, é preciso antes de tudo ser inteligente. Não se pode soltar raios e atirá-los por ai impunemente, existe um preço que aqueles que são descuidados tem de pagar.

Anthony tentou explicar o básico para Scott, embora fosse muita informação de uma vez, e aquele não fosse o lugar adequando para isso.

Scott, eu não sei o que esta acontecendo com o mundo, acho que você esta cometendo um erro em querer entrar nisso, mas vou estar ao seu lado ate o fim. Amanhã vamos partir, se quiser conversar com alguém, se despedir pode ser sua última chance. Não sei quando retornaremos. Mas uma coisa, me prometa que da próxima vez me levará para um hospital com enfermeiras mais bonitas. – disse Anthony 

Mas não havia nada, embora tentasse pensar a respeito Scott percebeu que não sentiria falta de coisa alguma, ele nunca se sentiu parte daquele lugar, aqueles pessoas não eram seus amigos, ele não amava nenhuma garota. Tudo aquilo não significava nada, é claro que ele não contaria nada disso a seu tio.

Durante a noite Scott sonha com coisas banais, um baile na escola, a garota mais bonita ao seu lado, ao fim da noite ele a beija enquanto dançam, mas não é isso que ele quer, esta procurando outras coisas.

Era como nadar contra uma correnteza muito forte, ele se sente arrastado, como se não pudesse sair deste sonho, mas ele força sua passagem, tentar ir além. No salão de festas onde esta acontecendo o baile ele enxerga uma porta que não estava lá antes, ele a abre e vê um vislumbre daquele mundo que ele visitava antes.

Aqueles lindos campos, algo que parecia um lugar onde o tempo não passava, parecia o cenário de um passado idílico, é fácil se perder na contemplação a um lugar tão lindo, mas ele se lembra do motivo pelo qual esta lá, quando olha para o céu esta lá, ele consegue ver a rachadura.

Ele vê também aquela garota que sempre aparecia nos seus sonhos, que o expulsa daquele mundo, mas desta vez seria diferente, ele sabia que era algo mais do que um sonho, ele tentaria conversar com ela, buscaria respostas, faria perguntas.

Mas Scott não tem essa chance, ele sente que esta despertando e não pode lutar contra isso, todo aquele mundo desaparece, se esvai como poeira. Era seu tio o despertando, eles precisavam se preparar para sair, iriam ao aeroporto. Estavam partindo de volta ao lugar onde tudo começou para eles, ir de encontro a tradição de sua família. Os Landers são uma família originaria da Grã-Bretanha.
Em um quarto de hotel, um homem na varanda observa a cidade de cima, mas isso não prende sua atenção por muito tempo, ele logo olha para estrelas, sua ambição é muito grande.

Eu sinto que eles estão partindo. Você é tão previsível irmão, como uma criança assustada com algo que não sabe lidar corre de volta para casa. – diz Richard
Exatamente como planejado. – diz uma voz feminina     

Um comentário:

  1. Sugoi <*-* ótimo capítulo, você tem se esmerado nesta história ela tem estado incrível, Scott começa a mostrar o desejo de conhecer o mundo dos seus sonhos, mesmo sendo contra, Anthony decide ajudá-lo, agora partem para casa ao que parece um plano orquestrado por Richard e uma mulher, estou curiosa para saber quem ela é, minha suspeita é a tal mulher com que ele sonha, mas vamos ver, esta sua nova história tem estado fantástica, tenho adorado.

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